Por BdF
Unicef chama atenção para um problema que coloca em risco os direitos de meninas e meninos do Minas Gerais: 61 mil crianças e adolescentes (0-19 anos) vivem sem acesso adequado à água potável, o que corresponde a 1,2% das crianças e dos adolescentes no estado. No Brasil, são 2,1 milhões (3,9%). Os dados são de uma análise do Unicef com base no Censo Demográfico 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e trazem um alerta sobre a urgência de investimentos para garantir o acesso adequado à água a todos, sem exceção.
“Ter acesso seguro à água potável é um direito humano fundamental – indispensável para a promoção e a manutenção da qualidade de vida. A privação desse direito afeta diretamente o bem-estar e o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes, comprometendo também a efetivação de outros direitos, como alimentação adequada, saúde e educação. O acesso à água é, portanto, essencial para a redução das desigualdades e da pobreza”, explica Rodrigo Resende, Oficial de Água, Saneamento e Higiene do Unicef no Brasil.
Os dados do Censo Demográfico 2022 mostram que a falta de acesso à água afeta de forma mais intensa as populações em situação mais vulnerável – em especial negros, indígenas e moradores das regiões Norte e Nordeste. No Brasil, o percentual de crianças e adolescentes negros sem acesso adequado à água é o dobro do de brancos – 4,7% versus 2,2%, respectivamente. Já entre crianças e adolescentes indígenas, esse percentual é 11 vezes maior do que o de brancos (25%). Em relação aos territórios, os 15 Estados com maiores percentuais de crianças e adolescentes sem acesso adequado à água estão no Norte e Nordeste do país.
Emergência climática agrava situação
“A crise climática é também uma crise de acesso à água. Os números representam a quantidade crítica de crianças e adolescentes que estão sem acesso à água segura para beber, preparar alimentos e fazer a higiene adequada, o que fere seus direitos e prejudica sua saúde, levando ao risco de contrair doenças, como diarreia aguda”, afirma Rodrigo Resende. Dados de 2016 da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que 20% das mortes de crianças abaixo de 5 anos, por ano, no mundo, têm como causa a diarreia. Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz de 2022 estimou que crianças indígenas têm 14 vezes mais chances de morrer por diarreia, comparado com outros grupos populacionais.
De acordo com o comunicado feito pelo Unicef, é urgente implementar políticas públicas que garantam o acesso adequado à água potável a cada criança e adolescente no país, com um olhar especial para aquelas em situação de maior vulnerabilidade.
Acesso a água nas escolas
Os desafios de acesso à água se refletem, também, nas escolas. De acordo com o Censo Escolar 2023, no Brasil, 1,2 milhão de estudantes estão matriculados em 7,5 mil escolas públicas que não têm acesso adequado à água potável no país. Entre eles, 224 mil meninos e meninas estão nas três mil escolas em que o acesso à água é inexistente. Em Minas Gerais, são 27 escolas públicas com água inexistente, onde estudam 1.269 alunos.
O acesso precário ou inexistente à água pode gerar uma série de problemas que prejudicam o desenvolvimento de meninas e meninos em idade escolar, levando ao risco de doenças, abandono ou atraso escolar e aumento das desigualdades.
Como mudar esse cenário?
Para mudar essa realidade, o Unicef recomenda priorizar investimento no setor, ampliar e fortalecer os serviços de acesso à água potável, priorizar as comunidades mais vulneráveis em programas e políticas de água, saneamento e higiene, aprovar o PL 5696/23, que tramita no Congresso Nacional, com vistas a garantir o acesso à água potável nas instituições de ensino.
Com informações do Unicef Brasil.