Parentes Enfrentam Descaso e Ineficiência em Meio ao Crescimento de Casos de Desaparecimento
Em 2024, o número de desaparecimentos no estado do Rio de Janeiro aumentou drasticamente, com uma média de 16 registros por dia, totalizando 2.533 casos até agora, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). O crescente número de desaparecimentos preocupa famílias e especialistas, que enfrentam grandes dificuldades devido à ausência de um banco de dados integrado entre polícia, hospitais e IML (Instituto Médico Legal).
“É a mesma história, só muda a idade, só muda a cor, o bairro, mas as histórias são sempre as mesmas: mau atendimento na delegacia, abandono do poder público e por aí vai”, lamenta Luciene Pimenta Torres, presidente da ONG Mães Virtuosas do Brasil. Luciene procura sua filha há 14 anos, desde que desapareceu em Nova Iguaçu.
Paula Napoleão, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, destaca a visão ultrapassada de muitos policiais, que tratam desaparecimentos como questões familiares ou sociais, prejudicando o atendimento às famílias. “Muitos policiais ainda têm essa visão de que o desaparecimento não é um trabalho policial. Então, é uma questão de família, é uma questão para assistência social, isso impacta muito no atendimento que essa família vai ter.”
Na tentativa de abordar o problema, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) lançou em 2012 o Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid). A plataforma, que atualmente acompanha 24 mil casos, visa integrar uma rede de instituições para detectar e resolver desaparecimentos. Apesar do esforço, o Plid ainda não está totalmente integrado ao sistema da Polícia Civil.
O desafio se intensifica na Baixada Fluminense, onde não há delegacias especializadas, e as investigações são conduzidas por delegacias de homicídios. A lentidão nas buscas pode ser crucial, especialmente no caso de menores de idade, onde a lei exige que as buscas comecem imediatamente após a notificação.
Famílias afetadas não apenas buscam seus entes queridos, mas também lutam por apoio psicológico e políticas públicas que lhes proporcionem recursos e assistência necessários durante esse processo. A Polícia Civil afirma que 95% dos desaparecidos na Região Metropolitana do Rio em 2024 foram encontrados, mas a falta de integração e a baixa taxa de inquéritos (apenas 10%) evidenciam a necessidade urgente de melhorias no sistema.