Crianças trocam lanche por apostas online e o vício ganha força nas escolas, desafiando professores e famílias
A febre das apostas esportivas, alimentada por influências de colegas e redes sociais, está fora de controle nas escolas brasileiras. Alunos de todas as idades, principalmente meninos, têm trocado lanches e mesadas por apostas em jogos online, muitos dos quais ilegais para menores. A diretora de uma escola estadual no Rio Grande do Sul, Olívia*, relatou que as tentativas de conter o uso de celulares em sala de aula falharam, com alunos escondendo os dispositivos para continuar jogando, mesmo durante as aulas e nos intervalos.
Esse comportamento é uma crescente preocupação. Segundo dados alarmantes, 30% dos brasileiros entre 16 e 24 anos já se envolveram com apostas, e a prática está começando cada vez mais cedo. A Unicef revelou que 22% dos adolescentes entrevistados começaram a apostar aos 11 anos ou menos. O caso de Cauã*, um estudante de 12 anos, ilustra a gravidade: ele começou a apostar aos 11, influenciado por colegas, e hoje usa parte de sua mesada para alimentar o hábito. “É meio viciante, né? Se tu aposta e ganha, fica querendo mais”, confessou.
A exposição a plataformas de apostas está se tornando um problema de saúde pública, com o Brasil já entre os três países com maior envolvimento em apostas no mundo, superando R$ 50 bilhões em 2023. Para muitas crianças, as consequências são imediatas: perdas financeiras, isolamento social, e dificuldade de concentração nos estudos. Mesmo com a promessa de um projeto de lei para restringir o uso de celulares nas escolas, especialistas e educadores alertam que as medidas precisam ser mais abrangentes para conter o avanço deste vício, que já atinge os lares e estára enraizado na vida de muitos jovens.
É um problema que não afeta apenas a vida escolar. Os relatos de Monique*, de 13 anos, mostram como as redes sociais, especialmente TikTok, estão facilitando o acesso de menores a esse mundo de apostas, transformando a curiosidade em um vício devastador. “Quando perco, é mó frustrante”, desabafou o pré-adolescente Cauã, refletindo a armadilha emocional que muitos jovens enfrentam.
As apostas em sala de aula são um problema real, e o que antes parecia uma brincadeira inofensiva, agora se tornou um vício perigoso que precisa ser combatido antes que fuja ainda mais do controle.