
Donald Trump e Xi Jinping se encontraram em Osaka, no Japão. — Foto: Kevin Lamarque / Reuters
A intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China traz reflexos para o mercado brasileiro. A recente decisão do presidente Donald Trump de impor tarifas adicionais de 10% sobre importações chinesas movimentou importadores americanos, que já buscam alternativas para evitar desabastecimentos e encarecimentos de produtos. O Brasil surge como um possível fornecedor, especialmente no segmento de calçados.
Em janeiro, durante a feira internacional de calçados em Riva Del Guarda, na Itália, importadores americanos procuraram fabricantes brasileiros, fechando ordens de compra antecipadas. De acordo com Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), os Estados Unidos já são o principal destino dos calçados nacionais, que em 2024 exportaram 10,28 milhões de pares, somando US$ 216,3 milhões.
Risco de desova de produtos chineses
Apesar da oportunidade de crescimento nas exportações para os EUA, o setor de calçados enfrenta um desafio potencial: a desova de produtos chineses na América Latina. Com a possível queda das vendas para os americanos, há preocupação de que calçados chineses entrem no mercado brasileiro a preços artificialmente baixos, o que caracteriza prática de dumping.
Impacto no setor automotivo
No setor automotivo, as tarifas americanas sobre veículos elétricos chineses, iniciadas em setembro e elevadas para 100% sobre veículos e 25% sobre baterias, já provocam tensões. Segundo Antonio Jorge Martins, coordenador de cursos automotivos da FGV, as empresas chinesas, sem espaço para absorver a produção no mercado interno, devem intensificar exportações para mercados onde já possuem bases de produção, como o Brasil.
Martins aponta que a estratégia chinesa será focar na exportação de conjuntos de peças com tecnologia embutida, de maior valor agregado, ao invés de itens simples como parafusos.
Possíveis acordos comerciais
O cenário também pode impactar negociações comerciais entre Brasil e União Europeia. Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper, avalia que, caso Trump imponha tarifas sobre produtos europeus, a resistência de países como França e Irlanda ao acordo Mercosul-UE pode enfraquecer, acelerando as negociações.
Marcelo Vitali, diretor da consultoria espanhola How2Go, destaca que a Organização Mundial do Comércio (OMC) enfrenta paralisações por falta de indicações americanas para o órgão de solução de controvérsias. A ausência de uma governança clara no comércio internacional aumenta a incerteza para países como o Brasil.
Acompanhar os desdobramentos
Para especialistas, o Brasil precisa monitorar de perto o desenrolar das negociações comerciais entre Estados Unidos e China, além de avaliar a possibilidade de novos acordos comerciais. A postura de Trump tem gerado um cenário de incertezas no comércio global, mas também pode abrir oportunidades estratégicas para exportadores brasileiros.