
Previsão de economia com cortes em benefícios previdenciários é reduzida, mas quem continua pagando a conta são os mais vulneráveis
Enquanto o discurso oficial prega responsabilidade fiscal e controle de gastos, a prática revela uma lógica perversa e recorrente: quando a conta chega, ela quase sempre cai no colo dos aposentados. A nova previsão de economia do governo federal com o chamado “pente-fino” em benefícios previdenciários foi drasticamente reduzida para 2025 — de R$ 7 bilhões para R$ 2,5 bilhões —, segundo dados do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026.
Apesar da redução na expectativa, o foco permanece: revisar benefícios concedidos a idosos, pessoas com deficiência e trabalhadores que dependem do INSS para sobreviver. Enquanto isso, os gastos em outras áreas do poder público seguem com pouca ou nenhuma transparência. Tribunais, ministérios, governos estaduais e prefeituras continuam operando com orçamentos milionários e sem o mesmo rigor de fiscalização.
Em vez de direcionar os tais “pentes-finos” para setores onde há acúmulo de privilégios e benesses — como diárias absurdas, carros oficiais, auxílios de todos os tipos e supersalários — o governo segue mirando aqueles que mais precisam. A promessa de combater ineficiências parece servir apenas para cortar do lado mais frágil da corda.
O secretário de Orçamento do Ministério do Planejamento, Clayton Montes, justificou a mudança nas previsões apontando dificuldades operacionais, como o desempenho abaixo do esperado do sistema Atestmed, que permite a concessão de auxílio-doença sem perícia presencial. “Esperamos escalar e aprofundar as medidas de revisão de gastos”, disse ele, sem mencionar qualquer medida concreta sobre os gastos elevados em outras esferas do poder.
No total, o governo estima um pente-fino de R$ 25,9 bilhões em 2024, com R$ 9 bilhões previstos apenas para ações voltadas à “eficiência do gasto público”. A julgar pelo que se vê, essa eficiência é seletiva.
Além das revisões no INSS, o governo agora espera economizar R$ 3,8 bilhões com o Proagro (Programa de Garantia da Atividade Agropecuária) e incluiu na conta mais R$ 2,7 bilhões com ações relacionadas ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), outro programa voltado a pessoas em situação de vulnerabilidade social.
A indignação cresce entre especialistas e aposentados, que se sentem mais uma vez deixados à margem. O recado parece claro: os ajustes são sempre feitos onde dói mais — na renda de quem depende dela para comprar remédios, pagar contas e sobreviver com dignidade.
Se existe de fato um compromisso com a justiça fiscal, talvez seja hora de virar o pente para cima, em direção aos gabinetes refrigerados e não aos balcões lotados do INSS.
Por: Editoria.