
O temor de que o Brasil estaria entre os grandes alvos do novo tarifaço global promovido por Donald Trump deu lugar a um certo alívio. A Casa Branca optou por aplicar ao país a menor alíquota extra de importação: 10%. Para efeito de comparação, Índia (26%), Japão (24%) e União Europeia (20%) foram bem mais afetados. A China, então, foi taxada em até 54% — e já respondeu com retaliações de 34% sobre produtos americanos.
Embora a medida encareça a entrada de produtos brasileiros nos EUA, seu impacto será bem menor que o sofrido por outras economias. Ainda assim, a guerra comercial acende o alerta em economistas e analistas: o ambiente global fica mais turbulento, e o crescimento econômico mundial pode desacelerar.
Ganhos e perdas no radar
Afinal, o tarifaço é bom ou ruim para o Brasil? A resposta ainda está sendo desenhada. Mas, entre incertezas e riscos, alguns possíveis efeitos positivos começam a se destacar.
Com países concorrentes sendo mais penalizados, produtos brasileiros ganham competitividade no mercado americano. E com a China reduzindo suas compras dos EUA, há espaço para o Brasil expandir suas exportações de commodities, como soja, milho, carnes e até sorgo — cereal que ganhou acordo de exportação com os chineses no fim de 2024.
Segundo a economista Lia Valls, da FGV, o movimento pode lembrar o que já se viu no primeiro governo Trump: os chineses substituindo produtos americanos pelos brasileiros. “Temos esse acordo de sorgo com os chineses. É algo que quase não exportávamos, mas os EUA sim”, explica.
A balança pode pesar a nosso favor?
Números do comércio ajudam a entender por que o Brasil foi menos atingido. As trocas entre os dois países são relativamente equilibradas: em 2024, os EUA venderam US$ 40,7 bilhões ao Brasil e compraram US$ 40,4 bilhões — superávit pequeno para os americanos.
Já países com grandes déficits comerciais com os EUA foram os que mais sofreram com o tarifaço. É aí que o Brasil pode encontrar oportunidades. A consultoria MB Associados projeta que o fluxo comercial com a China pode chegar a US$ 200 bilhões, o triplo da relação com os EUA.
“Com a demanda chinesa migrando, nossos embarques devem crescer. E esse movimento pode se estender também ao Sudeste Asiático, Japão e Europa”, destaca o relatório.
Nem tudo são flores
Apesar das janelas que se abrem, há pedras no caminho. Para Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, os riscos globais superam os ganhos pontuais: “Um mundo em conflito e inseguro é ruim para todos, inclusive para o Brasil”, alertou.
E há setores brasileiros mais atingidos que outros. O aço e o alumínio, por exemplo, enfrentarão tarifas de 25%, independentemente do país de origem.
Constanza Negri, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), chama atenção para esse efeito desigual: “Alguns setores até podem ganhar, mas o saldo geral tende a ser negativo para a indústria brasileira.”
Por: Editoria