
A nova fase da Operação Teatro Invisível parece ter escalado um elenco de peso. A Polícia Federal saiu às ruas nesta quarta-feira (16) para cumprir 10 mandados de busca e apreensão. Nada de prisão — por enquanto. Mas o objetivo é ambicioso: tentar reaver os impressionantes R$ 3,5 bilhões que, segundo as investigações, foram desviados dos cofres públicos.
Entre os protagonistas dessa trama, está o prefeito de Cabo Frio, Dr. Serginho (PL), que virou alvo das diligências. A Justiça também determinou o bloqueio de valores nas contas dos investigados, além da suspensão das atividades econômicas de oito empresas envolvidas no esquema.
Dois ex-candidatos a prefeito derrotados nas eleições de 2024 também aparecem na peça: o deputado estadual Valdecy da Saúde (PL), que concorreu em São João de Meriti, e Aarão (PP), que tentou a sorte em Mangaratiba. Rubão (Podemos), que venceu as eleições sub judice em Itaguaí mas não pôde assumir, também entrou na lista de investigados.
Outro nome do elenco é Davi Perini Vermelho, conhecido como Didê (PSDB), presidente do Instituto Rio Metrópole. Em 2020, Didê chegou a ser preso numa operação relacionada à compra fraudulenta de respiradores pelo governo de Santa Catarina — onde ele aparecia como o verdadeiro dono da empresa fornecedora. Desta vez, na casa dele, no Recreio dos Bandeirantes, a PF encontrou um relógio avaliado em R$ 39 mil.
Rodrigo de Castro, subsecretário de Eventos e Relações Institucionais do Governo do RJ, também integra o roteiro. Em 2020, ele foi investigado no célebre inquérito do QG da Propina (link externo).
Os agentes estiveram em endereços na capital fluminense, além de Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba e até Juiz de Fora (MG).
🎭 Quem são os alvos da Operação Teatro Invisível:
- Aarão de Moura Brito Neto (PP), ex-candidato a prefeito de Mangaratiba
- Bernard Rodrigues Soares
- Cristiano Almeida Leite
- Davi Perini Vermelho, o Didê (PSDB), presidente do Instituto Rio Metrópole
- Renan Tadeu Fernandes Pontes
- Roberto Pinto dos Santos
- Rodrigo Santos de Castro, subsecretário do Governo do RJ
- Rubem Vieira de Souza, o Dr. Rubão (Podemos), candidato impedido de tomar posse em Itaguaí
- Sérgio Luiz Costa Azevedo Filho, o Dr. Serginho (PL), prefeito de Cabo Frio
- Valdecy Dias da Silva, o Valdecy da Saúde (PL), deputado estadual
🎬 Como se financiava o espetáculo?
A 2ª fase da Operação Teatro Invisível investiga justamente o “financiamento da encenação”. A PF descobriu que os “atores” recebiam através de contratos genéricos firmados entre prefeituras e as oito empresas envolvidas. As acusações são graves: obstrução de justiça, caixa dois, fraude em licitações e lavagem de dinheiro.
A polícia apurou ainda que provas foram propositalmente destruídas, especialmente as armazenadas digitalmente. O grupo, segundo os investigadores, também usou recursos não declarados à Justiça Eleitoral para favorecer candidaturas nas eleições de 2024.
De acordo com a PF, parte dos investigados é dona de empresas que participaram de fraudes licitatórias em Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba e São João de Meriti.
“Houve a prática sistemática de lavagem de dinheiro, com o uso de contas de passagem, dinheiro em espécie, empresas de fachada e a aquisição de bens de alto valor”, afirmou a corporação.
Se forem condenados por todos os crimes, os envolvidos poderão pegar até 27 anos de prisão.
🕵️ Relembre o ato 1
A primeira fase da Operação Teatro Invisível, em setembro de 2023, prendeu quatro pessoas. A investigação revelou um esquema no qual atores eram contratados para interpretar “eleitores indignados” em teatros improvisados nas ruas, feiras e terminais de transporte, com o intuito de influenciar votos e desmoralizar adversários.
Segundo a PF, os roteiros — cuidadosamente elaborados — incluíam brigas falsas, denúncias inventadas, vandalismo simulado e gravações com câmeras escondidas. Tudo isso era disseminado de maneira estratégica nas redes sociais, com legendas falsas e montagens.
Depoimentos revelados pelo Fantástico mostraram atores recebendo R$ 250 por dia para as encenações. Algumas falas tratavam de temas sensíveis, como corrupção, segurança e racismo, o que aumentava a chance de viralização.
Especialistas apontam a operação como um marco na união entre desinformação e teatralização no cenário eleitoral brasileiro: uma estratégia híbrida, digital e física, para manipular a opinião pública.
📢 O que disseram os citados:
- Prefeitura de Cabo Frio
Informou que ainda não possui detalhes sobre a operação e que prestará esclarecimentos assim que houver informações confirmadas sobre o envolvimento do prefeito. Reiterou compromisso com a transparência. - Prefeitura de Mangaratiba
Disse que o investigado é um ex-prefeito que deixou o cargo há cinco gestões e que a administração atual não foi citada no processo. - Prefeitura de Itaguaí
Declarou que não vai se manifestar, pois o caso não envolve a gestão atual. - Instituto Rio Metrópole
Afirmou que a operação não envolve o Instituto, e que Didê nega qualquer relação com o caso. Disse que confia na Justiça. - Rodrigo de Castro
A defesa afirmou que recebeu com surpresa a citação do nome dele e que ele está à disposição para colaborar com a investigação. - Dr. Rubão
A assessoria afirmou que nenhuma empresa foi contratada para disseminação de fake news.
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🖋️ Por: Editoria