O projeto Negro Muro concluiu um grafite monumental de 600 metros quadrados em homenagem à escritora Conceição Evaristo no Largo da Prainha, zona portuária do Rio de Janeiro. Localizado na região da Pequena África, o mural integra a paisagem do Cais do Valongo, reconhecido por sua importância histórica como principal ponto de chegada de africanos escravizados ao Brasil.
O trabalho é resultado de um esforço conjunto liderado pelo muralista Cazé, com o apoio dos artistas assistentes César Mendes, João Bella e Leandro Ice, além da parceria com o festival Rua Walls. Foram utilizados 200 litros de tinta para criar o retrato que agora ocupa a lateral de um prédio emblemático do Largo da Prainha, um local de boemia e de memória negra.
Pedro Rajão, pesquisador e produtor do projeto Negro Muro, destacou os desafios enfrentados na execução da obra. “Por se tratar de verão intenso e trabalho em altura, com uso de equipamentos de segurança em uma estrutura metálica, a temperatura era alta. Além disso, as chuvas e os ventos do final de 2024 e início de 2025 atrasaram os trabalhos. Apesar disso, o resultado valeu todo o esforço”, afirmou.
A escolha da Pequena África como local para o mural tem forte significado. A região é marcada por sua conexão com a cultura negra e pela presença do Cais do Valongo, tombado como Patrimônio Mundial da UNESCO. Além disso, Conceição Evaristo mantém o centro cultural Casa Escrevivência no próprio Largo da Prainha e mora no Morro da Conceição, também localizado na zona portuária.
A obra é mais um passo do Negro Muro no compromisso de homenagear em vida grandes personalidades negras. Outros homenageados incluem nomes como Elza Soares, Alcione, Paulinho da Viola e Leci Brandão. O projeto busca não apenas destacar figuras importantes da cultura e da intelectualidade, mas também promover a reflexão sobre a história negra no Brasil.
A inauguração oficial do mural será realizada na próxima quarta-feira (29), às 19h, com a presença de Conceição Evaristo. O evento contará com uma apresentação musical do grupo Mulheres da Pequena África, reforçando a celebração da arte e da memória na região.
Para os organizadores do projeto, o mural representa um marco não apenas pela sua grandiosidade, mas também pelo impacto cultural que traz à Pequena África, consolidando o espaço como símbolo de resistência e celebração da história negra no Brasil.