Por BdF
A morte do presidente do Irã numa queda de helicóptero no último domingo (19) gera agora expectativas quanto à sucessão no cargo. Ebrahim Raisi começou a ser velado em funeral que vai durar três dias e o enterro está marcado para a quinta-feira (23).
Conforme determina a Constituição do país, quando um presidente morre, novas eleições devem ser convocadas. O pleito já foi marcado para 28 de junho.
Ainda é difícil saber como vai se desenrolar a sucessão, avalia Arturo Hartmann, pesquisador de Relações Internacionais e membro do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Federal de Sergipe (CEAI-UFS).
“A gente vai ter que observar. A leitura que a gente pode fazer é de acontecimentos recentes e da característica não só da política do presidente, mas também do ministro das Relações Exteriores [Hossein Amir-Abdollahian], que também morreu no acidente”, pontua.
“Em termos de dois principais feitos, conjunturais regionais, vamos dizer assim, é uma aproximação dos vizinhos árabes, uma reaproximação com a Arábia Saudita e, mais recentemente, no confronto com Israel, os ataques que a gente viu algumas semanas atrás, num sentido de você ter, de fato, pela primeira vez, um ataque diretamente feito do Irã contra Israel ainda que tenha sido dentro de uma estratégia política. Era mais uma mensagem política do que propriamente um ataque de destruição militar”, contextualiza Arturo.
Até as eleições do fim de junho, quem fica na presidência do Irã é Mohammad Mokhber, que era vice de Raisi. Ele foi nomeado presidente interino pelo Líder Supremo do país, Ali Khamenei, que decretou cinco dias de luto.
O registro de candidatos para a disputa eleitoral deve começar a ser feito a partir de 30 de maio e o prazo termina em 3 de junho. Depois disso, há um período curto de campanha. Mas as candidaturas devem ser pré-aprovadas por um conselho que também conta com integrantes escolhidos por Khamenei.
O pesquisador da Universidade Federal de Sergipe resume o sistema político iraniano. “A eleição é, em teoria, aberta, as pessoas podem votar. Só que você tem vetos a candidatos a partir de um conselho que é ligado à revolução islâmica. O que a gente pode dizer, em resumo, para simplificar bastante, mas como uma revolução, tenta se fechar internamente, e ao mesmo tempo, tenta controlar dentro do possível. Ao máximo que puder vetar, vai vetar”, conta.
“No sistema, você tem um presidente que cuida de várias questões internas e também externas, mas o Líder Supremo, hoje o Khamenei, é quem dá palavras sobre política externa, sobre decisões importantes em relação à soberania do Irã. Então, é um regime dual entre o Líder Supremo, que tem mais força do que o presidente”, segue Arturo Hartmann.
Há expectativas sobre a postura que o Irã vai adotar com a sucessão de Ebrahim Raisi. O especialista em relações internacionais diz que ele era considerado um possível sucessor de Khamenei em razão do que representava, sendo bem articulado com vários setores do governo.
“Raisi representava no certo sentido um guardião dessa estrutura, tanto de um controle interno, e também de você manter, a partir do que o Irã enxerga, esse espírito revolucionário de relações, de costumes, ou seja, manter a linha do que se imagina, o que essa elite, o que essa figura e o conselho acredita do que é a linha da ideologia do governo iraniano, da revolução islâmica.”
“Agora tem que ver dentro das possibilidades se abre uma nova disputa e uma nova leitura do caminho e do horizonte político do Irã equilibrando entre essa tentativa de dominância regional e uma disputa com Israel, obviamente. E na relação com os Estados Unidos, sendo que talvez um dos legados – eu estou falando de política externa desse último governo que acabou pelo acidente – foi a reaproximação com os países árabes. Não só a Arábia Saudita, mas a tentativa de uma mudança de eixo”, analisa Arturo.