
A performance tragicômica de Cláudio Castro
Se fosse uma entrevista, dava pra dizer que o governador Cláudio Castro surtou. Mas como foi uma sequência de falas desencontradas no Palácio Guanabara, o mais justo talvez seja dizer que ele encarnou um personagem entre o “Capitão Nascimento da retórica” e o “Zorra Total da segurança pública”. A cada frase, um susto. A cada ideia, um meme. A cada argumento, um ruído.
STF, ADPF das Favelas e uma dose de “Tropa de Elite”
Tudo começou quando ele resolveu comentar a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a ADPF das Favelas. Em vez de reconhecer os limites ou assumir responsabilidades, Castro preferiu soltar o verbo como se tivesse tomado três energéticos e assistido um episódio de “Tropa de Elite” dublado por ele mesmo.
“Helicóptero resolve sem dano colateral”
A primeira pérola veio quando ele defendeu o uso de helicópteros como “plataforma de tiro”. Sim, você leu certo. Segundo o governador, atirar de cima de um helicóptero seria tão seguro quanto jogar balinhas da janela.
Ele ainda afirmou, com surpreendente convicção:
“Em 32 anos de estudo de segurança pública, não tem sequer um relato de inocente atingido por bala vinda de helicóptero.”
Certamente, essa frase ignorou não apenas o bom senso, mas também os noticiários e a realidade das comunidades. Talvez seja por isso que moradores andem mais preocupados com o céu do que com a rua.
“A PF não foi feita pra subir morro”
O momento “sobe-som-de-batida-cômica” veio quando ele disse que não quer a Polícia Federal atuando nas comunidades. O motivo?
“Eles não são treinados pra isso.”
Como se apenas o BOPE existisse no universo paralelo em que ele vive. Segundo Castro, a presença da PF poderia causar a “perda de servidores qualificadíssimos”. Alguém avisa que o crime organizado também não manda currículo antes de agir?
“Fim da politização”, diz político sobre política
Em outro surto retórico, o governador declarou com seriedade:
“Ontem foi o fim da politização do debate.”
Isso logo após passar meia hora atacando partidos, fazendo campanha disfarçada e lançando indiretas para adversários. Ou seja, politizou o fim da politização — um verdadeiro inception ideológico digno do teatro do absurdo.
O plano “grande”, gigante, desproporcional
Questionado sobre como será o plano de retomada dos territórios dominados pelo crime, Castro respondeu que será algo “grande”. Muito grande. Tão grande que ninguém entendeu.
Vai envolver polícia, prefeitura, União, universidades, imprensa, torcida organizada… talvez até a Xuxa. O que será feito, no entanto, ninguém sabe. O prazo é de 180 dias. Um plano sem plano, guiado por um timoneiro perdido no mar das próprias contradições.
Recado para a favela: “agora tá liberado”
Aos moradores das favelas, que não têm nada a ver com o crime, o governador enviou um recado que soou como ameaça passivo-agressiva:
“Agora a gente tá liberado pra voltar a fazer segurança pública de verdade.”
Ou seja, helicóptero com mira, PF barrada no baile e uma inteligência que só ele vê. Já para os criminosos, a fala foi em tom de bangue-bangue imaginário:
“Os defensores deles perderam a ação e a gente vai continuar combatendo eles.”
Se fosse num palco de stand-up, teria arrancado algumas gargalhadas. No entanto, dito por um chefe de Estado, soa mesmo é trágico.
Conclusão: um Estado de Comédia
O governador parece mais perdido que o GPS do blindado. Em vez de apresentar soluções, faz firula com o microfone. Se segurança pública fosse resolvida com frases de efeito, o Rio já seria a Suíça tropical. Mas, com Castro no comando, estamos mais para “Estado de Comédia” do que de Direito.
Edição: Beatriz Correa.